Vendas no varejo crescem 11% ao ano, mas ritmo deve cair

22/01/2015


 

 

 

Desde 2010, as vendas da indústria farmacêutica no varejo, incluído no cálculo o desconto médio praticado, saltaram 45,5%, de R$ 27,7 bilhões para R$ 40, 3 bilhões em 2014, tomando-se como base o período de doze meses até setembro. O ritmo de crescimento anual, de 9% a 11%, é expressivo e tende a se manter no curto prazo. Mais adiante, porém, a tendência é a de redução gradual desse desempenho, diante de alguns fatores que podem pesar nos negócios da indústria e no acesso da população a novos medicamentos, na avaliação do presidente da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), Antônio Britto.

 

 

“Existe preocupação com a sustentabilidade do crescimento e essa foi a razão que nos levou a fazer um levantamento de vendas”, disse Britto, em entrevista ao Valor quanto ao recém-concluído estudo sobre o faturamento do setor pelo canal farmácia. Fundada em 1990, a Interfarma conta com 55 empresas associadas, que respondem pela venda no varejo de 80% dos medicamentos de referência do mercado e 33% dos genéricos, 46% da produção nacional de medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e 52% dos medicamentos tarjados (que requerem prescrição médica).

 

 

A desaceleração da economia brasileira, segundo Britto, não aparece entre os motivos de preocupação da indústria, uma vez que, mesmo em períodos de crise, as vendas de medicamentos chegam a mostrar expansão por causa da necessidade de manutenção de tratamentos médicos. “A retração na economia não é transferida automaticamente para a indústria farmacêutica”, lembrou.

 

 

Por outro lado, um dos principais motores do forte crescimento nos últimos anos no Brasil, a inclusão de novos consumidores como consequência da melhoria de renda, não deve se repetir tão cedo. Diante disso, haverá, naturalmente, uma acomodação das taxas de expansão. “Não deve surgir uma nova classe média como ocorreu nos últimos anos, incluindo muitos novos consumidores”, comentou.

 

 

 

 

Além disso, o envelhecimento da população e a mudança no perfil das doenças – enfermidades mais complexas ou crônicas, como câncer, hipertensão e obesidade são as que mais avançam no país – levarão à necessidade de tratamentos também mais complexos e, consequentemente, mais caros. “Com isso, o acesso aos medicamentos ficará mais difícil”, ponderou Britto. “Vai ser muito complicado para o país oferecer esses tratamentos sem uma nova estrutura de acesso.”

 

 

 

 

Do lado da indústria, a própria prática de descontos agressivos, especialmente no segmento de genéricos, tende a segurar o crescimento das receitas – embora em número de doses o ritmo de crescimento possa ser superior. “A oferta cresceu muito e os genéricos viraram commodities. Isso deprime as vendas”, afirmou.

 

 

 

 

De 2010 para 2014, conforme o levantamento, a participação dos genéricos nas vendas da indústria, tomando-se por base o preço de compra do varejo considerando o desconto médio praticado, passou de 12 para 13%. Ao mesmo tempo, as vendas de similares avançaram de 42% do total para 48%, e os medicamentos de referência perderam espaço, de 46% em 2010 para 40% neste ano.

 

 

 

 

Do ponto de vista da associação, a redução da carga tributária dos medicamentos, que vai de 32% a 34%, poderá garantir maior acesso da população a tratamentos médicos diante da mudança do mercado prevista para os próximos anos. A medida também poderia reduzir a judicialização do acesso a medicamentos, que é crescente e gera centenas de milhões de reais em gastos por ações movidas com vistas à obtenção de remédios gratuitos, ressaltou Britto.

 

 

 

 

“A judicialização não interessa a ninguém”, afirmou. “Desoneração, políticas afirmativas para estimular a inovação e desenvolvimento de medicamentos mais sofisticados e a discussão sobre formas de co-pagamento podem reverter esse cenário”.

 

 

 

 

Fonte: Valor Econômico


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