Estudo confirma caso de bebê sem microcefalia, mas com lesões causadas por zika

08/06/2016


 

 

Pesquisadores brasileiros documentaram o primeiro caso de uma criança que não tem microcefalia, mas teve lesões neurológicas e oculares graves causadas pelo vírus da zika.

 

 

 

Eles alertam que o espectro de problemas causados pela doença é mais abrangente do que o desenvolvimento anormal da cabeça dos bebês, e que crianças atingidas podem ainda não ter recebido atendimento.

 

 

 

O estudo confirma observações que já vinham sendo feitas pelos médicos de que o vírus poderia trazer consequências mesmo para bebês que, inicialmente, aparentavam não ter alterações na circunferência da cabeça.

 

 

 

Atualmente, a microcefalia – entendida pelo Ministério da Saúde como um perímetro cefálico menor do que a curva normal para seu sexo e idade – é condição para investigar casos de bebês nascidos nos últimos meses que possam ter sido afetados pelo vírus.

 

 

 

Mas em texto divulgado na revista científica The Lancet na noite desta terça-feira, médicos da Fundação Altino Ventura, do Hospital dos Olhos de Pernambuco e do Instituto da Visão da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descrevem o caso de uma criança pernambucana que nasceu com 38 semanas, 3,5 kg e perímetro cefálico medindo 33 cm – normal para sua idade, portanto – mas apresentou outras lesões características do que os pesquisadores já chamam de Síndrome Congênita da Zika.

 

 

 

“A extensão da doença é muito maior. Não dá para excluir a zika só porque a microcefalia está presente. Isso piora muito o problema”, disse à BBC Brasil o oftalmologista Rubens Belfort, da Unifesp, um dos responsáveis pelo estudo.

 

 

 

Quadro neurológico

 

 

Desde o nascimento, o bebê apresentou espasmos musculares nos braços e pernas. Exames de imagem mostraram calcificações em seu cérebro – cicatrizes causadas por infecções, que impedem o desenvolvimento cerebral.

 

 

 

Em exames oftalmológicos, os médicos também encontraram nele lesões oculares semelhantes às encontradas em bebês com microcefalia.

 

 

 

A mãe da criança não apresentou sintomas da doença, mas, após serem descartadas outras infecções, um exame do líquor – líquido cérebro-espinhal – da criança mostrou a existência de anticorpos para o vírus da zika.

 

 

 

A oftalmologista Camila Ventura, que conduziu os exames da criança em Pernambuco, diz que outros dois casos semelhantes estão sendo estudados.

 

 

 

Segundo a médica, a descoberta mostra a importância de que pediatras e pais observem com atenção o desenvolvimento dos bebês nascidos após surtos de zika, especialmente se suas mães tiveram sintomas durante a gravidez.

 

 

 

“É preciso levar em consideração o quadro neurológico da criança, não só o tamanho da cabeça. Em qualquer suspeita de que existam lesões no cérebro tem que se levantar a Síndrome Congênita da Zika, dentro do guarda-chuva de possibilidades”, disse à BBC Brasil.

 

 

 

“Queremos mostrar que isso é uma síndrome e tem um espectro. A criança pode ou não ter microcefalia, lesões oculares, auditivas, espasmos, convulsões. Como o Ministério da Saúde tem colocado a microcefalia como critério para continuar investigando os casos, você pode acabar excluindo crianças que têm lesões neurológicas. E muitas dessas mães são do interior, demoram a chegar até nós.”

 

Atualmente,o Brasil tem 1.551 casos confirmados de microcefalia e 3.017 ainda em investigação.

 

 

Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que “está investigando todos os casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso central informados pelos Estados, e a possível relação com o vírus da zika e outras infecções congênitas”.

 

 

 

 

 

Fonte: UOL


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