Estados retomam busca de solução para a guerra fiscal
07/08/2014
O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) surpreendeu ao divulgar, na semana passada, o convênio em que 21 Estados se comprometem a retirar, ao longo dos próximos anos, os benefícios fiscais de ICMS concedidos sem aprovação do órgão. O convênio também concede anistia às empresas que se aproveitaram dos incentivos ou foram autuadas por Estados que não concordavam com os benefícios.
Na prática, a proposta recoloca na mesa a discussão a respeito do fim da guerra fiscal, que começou em 1989, com a criação de duas alíquotas diferentes de ICMS, e ganhou fôlego na ausência de uma política nacional de incentivo ao desenvolvimento.
Como acontece quando qualquer guerra se prolonga, a esta altura é difícil identificar perdedores e ganhadores. Criado em 1968, o ICMS arrecadou o equivalente a 7,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, arrecada pouco mais de 7%. A estagnação é atribuída por especialistas à desindustrialização e à guerra fiscal. Estima-se que os Estados perdem cerca de R$ 30 bilhões por ano com os benefícios e isenções concedidos. Os ganhos são pulverizados e difíceis de medir.
Apesar disso, as discussões em torno do fim da guerra fiscal se arrastam há anos no Congresso, polarizadas entre os Estados mais desenvolvidos e os que julgam importante o incentivo do ICMS para atrair empresas e empregos. O tema só foi ganhar mais espaço na agenda do Legislativo depois de 2011, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou inconstitucionais as leis de sete Estados que concederam incentivos fiscais e desrespeitaram a Lei Complementar 24, de 1975, que exige nesses casos aprovação unânime do Confaz.
Diante da falta de acordo político, em 2012, o STF colocou em consulta pública a proposta de súmula vinculante 69 a respeito do tema. Em abril deste ano, a Procuradoria Geral da República deu parecer favorável à proposta, que declara inconstitucional “qualquer isenção, incentivo, redução de alíquota ou de base de cálculo, crédito presumido, dispensa de pagamento ou outro benefício fiscal relativo ao ICMS, concedido sem prévia aprovação em convênio celebrado no âmbito do Confaz”. A Procuradoria Geral da União também se posicionou pela não convalidação dos incentivos já concedidos.
A proposta dos 21 Estados é mais conciliadora e, de certa forma, retoma o projeto apresentado pelo próprio governo ao Congresso, que não avançou por questões políticas. Pelo convênio assinado, os Estados se comprometem a retirar os incentivos gradualmente, nos próximos 15 anos. Propõem que a alíquota do ICMS seja reduzida de 11% para 4% ao longo de sete anos. A anistia às empresas que se beneficiaram dos incentivos ou foram autuadas é outro elemento importante. Somente o Estado de São Paulo acumula R$ 24 bilhões em autos de infração, o que dá uma ideia do tamanho do problema.
Além disso, o convênio prevê a criação do fundo de compensação para os Estados que se consideram perdedores no processo e a repartição do ICMS do comércio eletrônico. A proposta do governo incluía ainda a constituição de um fundo para o desenvolvimento regional.
A iniciativa dos 21 Estados é, porém, pouco mais que uma manifestação de boa vontade uma vez que as decisões do Confaz só entram em vigor quando têm aprovação unânime de seus membros. Seis Estados não concordam com as propostas são Amazonas, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Para que a proposta vingue seria preciso que o Congresso derrubasse a exigência de unanimidade — o que não deixa de ser irônico uma vez que os incentivos que desencadearam a guerra fiscal foram concedidos unilateralmente.
Tramita no Congresso o Projeto de Lei 130 que busca resolver essa questão ao estabelecer que as decisões do Confaz passariam a ter validade desde que aprovadas por três quintos dos Estados, sendo um terço de cada região. O projeto está em análise na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Outros pontos importantes da proposta também dependem do Legislativo, como a redução gradual das alíquotas do ICMS e a criação dos fundos de compensação das perdas e de desenvolvimento regional. O calendário eleitoral, que reduziu o trabalho no Congresso além do impensável, dificulta o avanço da proposta, que pode progredir no próximo governo.
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Fonte: Valor Econômico -SP
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