Cientistas criam adesivo que funciona como vacina contra a gripe
29/06/2017
Poucas estratégias de saúde pública salvaram tantas vidas no mundo quanto a vacinação. Com a explosão de pandemias provocadas por novos vírus e patógenos reemergentes, os cientistas estão atrás de novas abordagens que permitam atingir um número maior de pessoas. Além de métodos mais baratos, buscam os de fácil acesso e indolores, que ampliariam, potencialmente, as imunizações. Uma dessas ferramentas é um adesivo de pele, semelhante ao band-aid, composto por 100 microagulhas que medem 650 micrômetros —1 micrômetro corresponde a 0,01mm — de altura. O estudo de fase 1 conduzido pela Universidade de Emory (EUA) para vacinação de influenza com esse tipo de instrumento foi bem-sucedido, conforme um artigo publicado hoje na revista The Lancet.
Esta é a primeira vez que uma pesquisa mostra que a vacinação por adesivo dissolvível foi bem tolerada, além de provocar resposta defensiva satisfatória, disseram os autores do trabalho. De acordo com eles, outros estudos sobre esse método já foram publicados e, inclusive nos Estados Unidos, existe um produto do tipo aprovado pela vigilância sanitária. Mas, embora seguro e efetivo, o dispositivo não é dissolvível (uma vez usado, as agulhas continuam no adesivo); não é termoestável, o que necessita refrigeração especial; e tem de ser aplicado por profissionais da área de saúde.
A nova ferramenta testada agora tem a vantagem de não deixar resíduos cortantes e de poder ser aplicada pelo próprio usuário, além de não precisar de um regime diferenciado de armazenamento. “Esses avanços podem reduzir o custo da vacinação da influenza e aumentar o acesso à vacina, elevando, portanto, a cobertura da vacinação e da proteção”, destaca a principal investigadora, Nadine Rouphael, da Faculdade de Medicina da Universidade de Emory. “Apesar da recomendação de uma vacinação universal, o influenza continua a ser uma importante causa de doença, levando a índices significativos de morbidade e mortalidade. Ter a opção de uma vacina que pode ser facilmente autoadministrada, sem dor, pode aumentar a cobertura e a proteção dessa importante imunização”, diz.
Sem efeito colateral
O estudo com humanos começou em 2015 e incluiu 100 participantes entre 18 e 49 anos, que não haviam sido imunizados contra influenza na campanha de vacinação de 2014-2015. Eles foram divididos aleatoriamente em quatro grupos: parte foi vacinada com o adesivo administrado pelo profissional de saúde, parte autoaplicou o dispositivo, outros receberam a injeção intramuscular, e, por último, um grupo recebeu um band-aid com placebo, aplicado por um enfermeiro.
Os resultados mostraram que, além de segura, a vacinação com o adesivo não teve efeitos colaterais — as reações na pele foram, na maior parte das vezes, vermelhidão e coceira moderada, que duraram de dois a três dias. As respostas imunes geradas tanto pela injeção quanto pelo adesivo foram semelhantes e continuaram presentes depois de seis meses. Mais de 70% dos participantes que foram imunizados com o adesivo reportaram que prefeririam esse método a qualquer outro (injeção ou aplicação intranasal) nas próximas vacinações. Além disso, não foram vistas diferenças nas doses de vacina aplicadas pelos profissionais de saúde e pelos voluntários que autoaplicaram o dispositivo, mostrando que o adesivo é autoadministrável. As vacinas continuaram potentes nos band-aids, sem refrigeração por pelo menos um ano.
“As pessoas deixam de se vacinar por diversas razões. Um dos principais objetivos de se desenvolver o adesivo de microagulhas foi tornar a vacina acessível a mais gente”, diz Mark Prausnitz, coautor do trabalho e professor de engenharia biomolecular da Universidade Tecnológica da Geórgia, onde a tecnologia foi desenvolvida. “Tradicionalmente, para ser vacinado contra influenza, você precisa visitar um profissional de saúde, que vai administrar a vacina, usando uma agulha hipodérmica. A vacina é estocada no refrigerador, e é preciso descartá-la de maneira segura. Com o adesivo, você poderia comprá-lo na farmácia e aplicar em casa, deixar na pele por alguns segundos, arrancar e jogar no lixo, porque as agulhas já estariam dissolvidas. Como os adesivos podem ser armazenados em qualquer lugar, você poderia, inclusive, mandá-los pelo correio para outras pessoas”, exemplifica.
O bioengenheiro vem desenvolvendo o dispositivo há muitos anos e, satisfeito como resultado, explica que a próxima etapa é o estudo de fase II, que envolve um número maior de participantes. Prausnitz conta que a equipe também trabalha para desenvolver adesivos com microagulhas que poderão ser usados para imunizar contra outras doenças, como rubéola, sarampo e poliomielite. Em nota, Rolderic I. Pettigrew, diretor do Instituto Nacional de Imagem e Bioengenharia dos Estados Unidos, órgão que financiou o estudo, disse que os adesivos devem revolucionar a maneira como as pessoas são imunizadas. “As características particularmente atrativas são que o adesivo pode ser despachado pelos correios, além de autoadministrado. Além disso, essa tecnologia é promissora para imunizações de outros tipos de vacinas no futuro”, escreveu.
“O influenza continua a ser uma importante causa de doença, levando a índices significativos de morbidade e mortalidade. Ter a opção de uma vacina que pode ser facilmente autoadministrada, sem dor, pode aumentar a cobertura e a proteção”
Fonte: Correio Braziliense Online
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